Ela já não acreditava em sonhos, mas
naquela sábado Júlia decidiu que seria tudo diferente. Nas típicas manhãs de
outono em Porto Alegre costumava levantar tarde nos finais de semana, mas neste
levantou-se cedo. Tudo se desalinhou por tanto, conforme já sua típica dança
rotineira, os zodíacos tinham culpa nisso se algo não fosse como o de habitual
e realmente não foi. Levantou-se e caminhou na rua sem o seu tradicional
cachecol, cumprimentou seus vizinhos, como se fosse normal, hábito que nunca
teve, sempre preferiu andar de cabeça baixa não se importando nem com o menino
pedindo esmola, mas neste sábado Júlia era outra pessoa.
Júlia nasceu
de uma tradicional família de operários, mas contrariando as estatísticas decidiu
estudar e não engravidar como a grande parte das pessoas de sua idade e classe
social. Impopular na escola dedicou a sua juventude aos livros, querendo sempre
saber a razão da vida foi logo estudar Filosofia: “A profissão que nunca te dará
respeito” repetia sua mãe quase como um mantra diário.
Sempre
fechada, pouquíssimos tiveram acesso a seu coração, na verdade somente uma
pessoa derrubou o muro de seus sentimentos e essa mesma que a abandonou
quebrando em pedaços o seu já pequeno coração, foi embora para São Paulo com outro alguém que
não só falasse em Émile Durkheim e Jean Paul Sartre, alias nunca havia ouvido falar nesses sujeitos.
Sádico,
irônico ou destino, após dois anos de espera, pois Júlia ainda fomentava a
esperança do retorno do sol, decidiu sorrir para vida. Talvez pela primeira vez
acreditasse na beleza das cores, nos sons da natureza e na pureza da vida e
decidiu que tinha chegado a hora de iniciar um novo ciclo. Júlia foi banhar-se
ao mar e nunca mais foi vista.
FIM.
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Por-do-sol do Guaíba/RS |